As (poucas) leituras de 2021

Benjamin DeYoung, Unsplash.

Dois mil e vinte e um foi o ano da vida em que menos li desde que fui alfabetizada. Tal como vi acontecer com muitas outras pessoas que adoram ler, a pandemia prejudicou minha capacidade de me concentrar e de amar o que sempre amei, e ainda não tenho explicação satisfatória para isso.

Se em 2020 tentei me compensar lendo contos curtos, que são uma corrida rápida até a esquina em vez de uma maratona, em 2021 parei de me cobrar até mesmo isso, porque estava exausta de muita coisa, inclusive de insistir em me pertencer. Eu me larguei pela casa. Li pouco, pouquíssimo. Por outro lado, me dei de presente várias leituras brasileiras.

Comecei janeiro lendo os Contos Postais de Diego Guerra, que distribui socos em forma de ficção-relâmpago; emendei com os horrores de Noites negras de Natal, de Karen Alvares e Melissa de Sá; chorei com Homens pretos (não) choram, de Stefano Volp; viajei no tempo com o inquietante Os filhos de Asher, de Isabor Quintiere; e terminei o mês aquecendo o coração com Sentimento secreto, noveleta de amor sáfico e autodescoberta de Dani Salemme (obrigada pela indicação, Karen!).

Em fevereiro, conheci as cidades ambulantes e os personagens complexos de Oceanïc, de Waldson Souza, e sorri no carnaval fantástico de Toda magia, de Johnatan Marques, mas dediquei o resto do mês a uma pesquisa sobre as muralhas da China porque sou dessas.

Passei praticamente o resto do ano todo lendo só na hora de dormir, abraçada à obra completa dos contos de Machado de Assis, leitura que é tanto lazer quanto referência para quem vive às voltas com a tradução de textos do século XIX. Foram tantos meses de Machado que, ao terminar, me veio uma vaga sensação de orfandade.

Em novembro, passeei pelo interior da Bahia com o livro-reportagem Homem com mochila, de Ricardo Santos, e emendei com Estranha Bahia, coletânea de contos de fantasia, ficção científica e horror organizada pelo mesmo Ricardo, por Alec Silva e Rochett Tavares.

Abri dezembro sondando os horrores escondidos na neblina litorânea de Farol da névoa, de Karen Alvares, e voltei ao desassossego romântico-sexual da adolescência com Conectadas, de Clara Alves. Agora, antes de 2021 acabar, estou lendo dois ao mesmo tempo: Violetas, unicórnios e rinocerontes, coletânea de contos organizada por Claudia Du e finalista do Prêmio Argos; e Amora, coletânea de contos inquietantes de Natalia Borges Polesso, ganhadora do Jabuti, sobre os amores e desencontros entre mulheres. Este é um caso curioso. Amora me apareceu no meio das muitas obras que foram oferecidas de graça na internet durante a pandemia, mas não no original em português e sim em inglês, com tradução de Julia Sanches. É meu primeiro contato com a obra de Natalia e me pego o tempo todo tentando desvendar o português por trás das frases; ao falhar nisso, concluo que a versão de Julia é muito natural e fluida, salpicada, aqui e ali, por palavras brasileiras que a tradutora talvez tenha decidido preservar para dar ao público anglófono um gostinho de Brasil.

Era só tudo isso que eu queria dizer hoje.

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